TEXTO AUXILIAR PARA AULA 01 - BIO 2º SEMESTRE
O Núcleo e os cromossomos
O NÚCLEO E OS CROMOSSOMOS
Maximiliano Mendes
As informações que possuímos em
nossos computadores são armazenadas primordialmente nos discos rígidos (Hard
Drives – HDs). Lá estão gravados os aplicativos mais importantes, como
o sistema operacional, que permitem o funcionamento do dispositivo. Também
sabemos que não é conveniente deixar o disco rígido descoberto ou desprotegido,
pois ele pode sofrer danos, acumular poeira e passar por outros processos
capazes de comprometer a integridade dos dados. Por isso, os HDs ficam
protegidos no interior dos gabinetes, ou então, no caso dos HDs externos, são
comercializados com coberturas plásticas, os cases, que lhes
conferem proteção.
Nas células, o HD pode ser
representado pelas moléculas de DNA, que por sua vez estão localizadas em
um case, o envelope nuclear.
O núcleo é uma estrutura presente
apenas nas células eucariontes, onde se encontra o DNA genômico (o material
genético), organizado em cromossomos. As células procariontes não possuem
núcleo, mas sim, um nucleoide, a região citoplasmática onde se localiza o
cromossomo circular desses organismos. Visto que abriga o material genético,
meio material no qual estão inscritas as informações biológicas/genéticas, se
quisermos atribuir uma função ao núcleo, podemos considerá-lo como o centro
controlador do metabolismo e do desenvolvimento celular.
ESTRUTURA DO NÚCLEO
·
Envelope nuclear ou carioteca: delimita o conteúdo do núcleo e o isola
do citoplasma. A membrana da carioteca é contínua com a do retículo
endoplasmático.
·
Poros: selecionam as substâncias que entram e saem do núcleo (proteínas,
RNAs...).
·
Lâmina nuclear: constituída por filamentos proteicos do citoesqueleto
(filamentos intermediários) que dão forma e suporte à carioteca e fornecem
pontos de ancoragem aos cromossomos.
·
Nucléolo: sítio de síntese de RNAs ribossômicos, rRNAs, e da montagem
dos ribossomos. Pode se dizer que eles consistem em aglomerados de partículas
ribossômicas em formação. Os ribossomos são formados de rRNAs e proteínas.
·
Cromatina: conjunto de cromossomos.
·
Cariolinfa ou nucleoplasma: solução contendo diversas moléculas
biológicas.
Há outras estruturas dentro do
núcleo, porém, as mencionadas acima são as principais.
OS CROMOSSOMOS
Cada cromossomo é um filamento constituído de uma molécula de DNA linear
associada a várias proteínas, dentre as quais, as histonas, que auxiliam no seu
empacotamento ou condensação. A importância dos cromossomos está no fato de que
as moléculas de DNA possuem os genes, as unidades que contêm as características
informacionais e hereditárias. Utilizaremos uma definição simples de gene:
sequência de nucleotídeos no DNA que especifica a sequência de aminoácidos de
uma proteína. Estima-se que a espécie humana possua aproximadamente de 20000 a
22000 genes. Para efeitos de comparação, as pulgas d'água, pequenos crustáceos,
parecem ser os animais com o maior número de genes, ~31000. A tabela abaixo
mostra alguns dados comparativos sobre os genomas de alguns organismos. Compare
com a espécie humana.
Organismo
|
Número diploide de cromossomos
|
Número de pares de bases
|
Número de genes
|
Referência
|
Mosca das frutas
|
8
|
1.65x108
|
13,600
|
|
Leveduras
|
16
|
12,462,637
|
6,275
|
|
Humanos
|
46
|
3.3 x 109
|
~21,000
|
|
Mitocôndria humana
|
-
|
16,569
|
13
|
|
Arroz
|
24
|
4.66 x 108
|
46,022 -55,615
|
|
Cachorro
|
78
|
2.4 x 109
|
~25,000
|
|
Rato
|
40
|
3.4 x 109
|
~23,000
|
Fonte: http://www.edinformatics.com/math_science/human_genome.htm
Nossa espécie possui em cada célula
somática (= do corpo) 46 cromossomos. Esses 46 compõem dois conjuntos (n) de
23. Por isso, dizemos que somos uma espécie diploide, 2n. Já nossos gametas, os
espermatozoides e os óvulos, possuem apenas um conjunto cromossômico, com 23,
por isso são ditas haploides, n. Quando os dois gametas se unem para formar o
zigoto, o novo indivíduo, cada um trás seu conjunto de 23 cromossomos e, assim,
o novo indivíduo apresenta os dois conjuntos, 2n = 46.
Também podemos dizer que uma célula
ou organismo diploide é aquele cujos cromossomos estão presentes em pares. Cada
um dos cromossomos constituintes de um par pertence a um conjunto cromossomal
herdado do pai ou da mãe. E por que dizemos que esses cromossomos formam um
par? Um par de cromossomos 1, por exemplo? Porque esses dois cromossomos do par
são iguais, homólogos, mas iguais no sentido de que ambos possuem os mesmos
genes na mesma ordem (possuem também o mesmo comprimento e o centrômero na
mesma posição, veremos em breve o que é o centrômero).
Estrutura dos cromossomos:
Provavelmente você não entendeu bem
essas figuras de cromossomos acima. Vejamos então a estrutura dos cromossomos
duplicados e condensados, pois normalmente eles são representados dessa forma.
Antes de iniciar o processo de
divisão celular ocorre a duplicação do DNA, e, com isso, a duplicação dos
cromossomos. O detalhe é que, após serem duplicados, os dois cromossomos filhos
permanecem ligados por proteínas chamadas coesinas e a região estrangulada onde
estão ligados é chamada de centrômero (apesar do nome, nem sempre essa região
se encontra no centro). Como se não bastassem tantos detalhes, aqui vai mais
um: quando ainda estão unidos após a duplicação, cada um dos dois novos cromossomos
é chamado de cromátide (os dois são cromátides irmãs).
Ainda é importante mencionar que as porções dos cromossomos que estão
mais condensadas (mais enroladas) antes desse processo de condensação que
ocorre como preparação para a divisão celular, são inativas: os genes
localizados nessas porções não são transcritos. Damos a essas porções o nome de
heterocromatina. Já às porções menos condensadas e ativas, cujos genes podem
ser transcritos, damos o nome de eucromatina.
Tipos de cromossomos:
Podemos agrupá-los em dois grupos:
Os autossomos são os cromossomos
presentes igualmente no homem e na mulher. Têm “nomes de números”: cromossomos
1 ao 22. Como a nossa espécie é diploide, possuímos dois de cada autossomo,
então temos 22 pares ou 44 autossomos ao todo em cada célula somática, dois
cromossomos 1, dois do 2, dois do 3 e assim sucessivamente até o 22.
Os cromossomos sexuais ou
heterocromossomos formam um par que difere no homem e na mulher.
Mulheres: possuem dois cromossomos
iguais, chamados de X. São XX.
Homens: possuem em seu par sexual, um
cromossomo X e um Y. São Xy.
Esses cromossomos têm
genes/informações relacionados à diferenciação entre os sexos e no caso dos
homens a homologia entre os cromossomos desse par é incompleta, pois o
cromossomo Y é menor que o X.
Cariótipo feminino da espécie
humana. Cariótipo é o número e o aspecto dos cromossomos no
núcleo. Também pode ser o conjunto completo dos cromossomos de um
organismo. Imagem:
Em nossa
espécie, há um mecanismo capaz de condensar e inativar um dos cromossomos X
quando há mais de um presente. Esses cromossomos X condensados são chamados
corpúsculos de Barr ou cromatina sexual. Aparentemente, a razão para isso é
que, ao contrário dos autossomos, é preciso apenas um cromossomo X com os seus
genes ativos nas células, assim, um dos cromossomos X nas mulheres, ou em quem
quer que tenha dois ou mais cromossomos X (veja adiante), é em grande parte
condensado e inativado de forma a compensar a presença em dose dupla dos genes
localizados no DNA do outro cromossomo X. Um bom exemplo para se perceber essa
inativação de um dos cromossomos X são as gatas Calico, nas quais se pode ver
áreas com pelos de três cores distintas: branco, preto e marrom. As cores preta
e marrom são determinadas por genes localizados nos cromossomos X. Então
dependendo de qual cromossomo X for inativado, por conta do gene que ele
possui, a cor no local será preta ou marrom. Já a cor branca é determinada por
genes localizados nos autossomos.
Consideramos que para haver o
desenvolvimento de sistema genital masculino é necessário que haja cromossomo
Y, pois ele possui um gene chamado sry, região determinadora de
sexo do Y. sry determina que haja a formação dos testículos.
Caso esteja ausente ou haja algum tipo de problema, ocorre o desenvolvimento
dos ovários ou os testículos não completam o desenvolvimento. Na verdade, esse
gene sry é apenas um dos vários que estão envolvidos no
desenvolvimento de uma pessoa do sexo masculino com os órgãos genitais
completos e funcionais.
Aberrações cromossômicas:
Estruturais: alterações na estrutura
de um ou mais cromossomos. Exemplo: síndrome do miado do gato (cri-du-chat),
consiste em deleção (perda de parte) do cromossomo 5 e tem como sintoma
principal, o fato de que os recém nascidos acometidos choram em um tom alto que
se assemelha ao miado de um gato.
Numéricas: alteração do número de
cromossomos. Os tipos de alterações numéricas são:
Poliploidias: alterações no grau de
ploidia do organismo. Por exemplo, haver o surgimento de um organismo 3n em uma
espécie 2n. Uma das causas possíveis é de haver mais de um gameta masculino
fertilizando um feminino (uma exceção à normalidade). Geralmente, em animais,
esse tipo de organismo morre antes de completar o seu desenvolvimento
embrionário. Acredita-se que aproximadamente 5 % dos abortos espontâneos em
nossa espécie aconteçam devido a isso. Porém, no que diz respeito às plantas, a
poliploidia não costuma gerar problemas, ao contrário: pode promover a
especiação e o aumento da produção.
Aneuploidias: alterações no número de um ou mais cromossomos. Por
exemplo, humanos gerados com 47 ou 45 cromossomos ao invés dos 46, que é o
número diploide da espécie. As aneuploidias podem ser causadas pela não
disjunção, que é um erro na separação dos cromossomos homólogos ou das
cromátides irmãs durante os processos de divisão celular (mitose e meiose), de
forma que, por conta desse erro, há a geração de células filhas com cromossomos
a mais ou a menos. Se a não disjunção ocorrer durante a meiose, que é o
processo de divisão celular responsável pela geração dos gametas, alguns deles
poderão apresentar aneuploidias e gerar indivíduos portadores de síndromes
cromossômicas, caso sejam fertilizados.
Exemplos de aneuploidias (na verdade,
as aneuploidias são as causas mais comuns e frequentes para as síndromes a
seguir):
Síndrome de Down: trissomia do cromossomo 21. Indivíduos que possuem três ao invés
de dois cromossomos 21. Dentre os sintomas podemos citar: retardo mental,
problemas cardíacos, uma única prega nas palmas das mãos, fissuras palpebrais
oblíquas (olhos puxados) e etc. Os indivíduos podem ser do sexo feminino ou
masculino, visto que é uma trissomia autossômica.
Antes de prosseguirmos vejamos alguns
detalhes importantes sobre o retardo mental:
Atualmente se prefere utilizar o
termo deficiência intelectual ao invés de retardo mental, por conta de esse
termo ser considerado pejorativo. Quem é que gosta de ser chamado de retardado?
É comum ler nos livros didáticos que
o retardo mental é um dos sintomas de várias dessas aneuploidias, porém, na
verdade, para certos casos, como é o da síndrome de Turner que veremos a
seguir, a coisa não é bem assim. Ocorre que, hoje em dia, o QI médio é de
aproximadamente 100 e se considera que a pessoa tenha uma deficiência
intelectual caso tenha um QI inferior a 70 (indivíduos com síndrome de Down
possuem QI por volta de 50 – 60). Porém, pessoas com QI de 50 a 70, podem viver
independentemente, caso recebam a devida assistência. Não são gênios, mas
conseguem trabalhar e conviver em sociedade, pois não são pessoas com
deficiências intelectuais extremas. Mas, por marcarem 70 ou menos em testes de
QI, podem ser classificadas em certos textos como tendo retardo mental.
Síndrome de Turner: é uma monossomia. Ao
invés de possuírem um par de cromossomos sexuais, os indivíduos possuem apenas
um cromossomo X, são ditos X0. Como não possuem cromossomo Y, são mulheres.
Dentre os sintomas podemos citar: baixa estatura, infertilidade e pescoço alado
(possui pregas de pele ao lado do pescoço). O pescoço alado pode ser reparado
com cirurgia. Não se diz mais que as pessoas com síndrome de Turner possuem
retardo mental ou deficiência intelectual, porém, algumas indivíduas podem ter
dificuldades no âmbito da matemática.
Síndrome de Klinefelter: é uma trissomia. São
homens que possuem dois cromossomos X e um Y (XXY). Dentre os sintomas:
infertilidade, baixa produção de testosterona, cintura mais larga e etc. Podem
apresentar dificuldades no âmbito verbal, então, por conta disso, pode se dizer
que os indivíduos acometidos por essa síndrome podem ter deficiência
intelectual. Também é possível considerar que
alguns indivíduos portadores dessa síndrome são intersexuais (ou
pseudo-hermafroditas, mais sobre isso logo em seguida).
Há outros tipos de aneuploidias, como
as síndromes de Patau (trissomia do 13) e de Edwards (trissomia do 18).
Adendo:
e os hermafroditas?
Bem, em
princípio, um organismo hermafrodita é aquele que possui as gônadas masculinas
e femininas funcionais, ou seja, pode produzir, mesmo que em momentos
diferentes, os gametas masculinos e femininos (algumas definições são mais
abrangentes). Na espécie humana, aparentemente isso não ocorre e pode se
encontrar além das gônadas, ou mal formadas ou só uma funcional, uma massa de
tecidos masculinos e femininos chamada ovotestis. Além disso, a genitália é
ambígua. Sendo assim, é preferível utilizar o termo pseudo-hermafrodita ou
intersexual.
Dentre
as diversas causas possíveis a mais comum é a hiperplasia congênita adrenal. É
uma desordem hormonal, na qual os embriões XX, que normalmente se desenvolveriam
em mulheres, têm suas glândulas adrenais produzindo grandes quantidades de
hormônios masculinizantes durante o desenvolvimento embrionário, como a
testosterona. Pode ser detectada em exames pré-natais e se for o caso,
inicia-se o tratamento logo após o nascimento.
Outras
causas podem ser, por exemplo, a incapacidade de as células de um embrião XY
reconhecerem os hormônios andrógenos masculinizantes.
REFERÊNCIAS:
Campbell,
Reece et al. Biologia. 8ª
ed. Artmed. 2010.
Catani et al. Ser
Protagonista – Biologia. Vol. 1. Edições SM. 2009.
Alberts et al. Molecular Biology of the Cell. 5th ed. Garland Science. 2008.
Amabis
& Martho. Biologia das Células. 3ª ed. Moderna. 2010.
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