ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS - TEXTO INFORMATIVO/ENEM
Acidificação dos oceanos: causas e consequências
19 de Outubro de 2016
Como você provavelmente já sabe, faz alguns anos que a comunidade internacional vem alertando para o grave problema do aquecimento global, resultado da liberação dos chamados gases de efeito estufa por atividades humanas. Entre os vilões mais famosos está o gás carbônico (CO2), que é gerado pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento, entre outras fontes. A emissão desses gases atingiu níveis tão altos que recentemente a concentração de CO2 na atmosfera bateu o recorde em toda a história do nosso planeta.
A crescente quantidade de gás carbônico emitida na atmosfera devido às atividades humanas é a principal causa da acidificação dos oceanos. Imagem: traduzida de NASA.
Contudo, há uma segunda grave consequência da emissão de CO2 na atmosfera que pouca gente conhece e que tem preocupado especialmente pesquisadores da área de biologia marinha: a acidificação dos oceanos! Mas afinal, o que é isso?
Grande parte do gás carbônico que vai para a atmosfera acaba sendo absorvida pelos oceanos, rios e lagos. Uma vez dissolvido na água, parte do CO2 reage com moléculas de água (H2O) e produz ácido carbônico (H2CO3) que, por ser instável, se dissocia liberando íons bicarbonato (HCO3-) e prótons de hidrogênio (H+). Os íons bicarbonato, por sua vez, também se dissociam, liberando íons carbonato (CO32-) e mais íons H+ – sendo este último o responsável direto pela redução do pH do oceano. O aumento dos íons H+ no oceano faz com que íons carbonato (CO32-), que já são presentes em abundância no oceano, se liguem a eles, formando mais íons bicarbonato a fim de atingir um equilíbrio químico, reduzindo a concentração deste íon no oceano.
O dióxido de carbono absorvido pelos oceanos altera a química dos oceanos, elevando a concentração de íons H+ e, consequentemente, aumentando sua acidez. Imagem: Universidade de Maryland.
Embora alguns organismos possam se beneficiar dessa alteração na química dos oceanos, como algas fotossintetizantes e fanerógamas marinhas, a acidificação dos oceanos pode ter efeitos graves em muitos organismos. Existem evidências, inclusive, de que a maior extinção da história da Terra (entre o fim do período Permiano e início do Triássico), teria sido causada pela acidificação dos oceanos resultante da intensa atividade vulcânica.
As espécies calcificadoras – como corais, moluscos e crustáceos –, que são aquelas que utilizam o carbonato de cálcio(CaCO3) como matéria prima para construir seus esqueletos, conchas e carapaças, são os organismos que mais se prejudicam com a acidificação dos oceanos. Isso porque a menor concentração de íons carbonato no ambiente (“sequestrados” pelas reações químicas resultantes da dissolução do CO2), torna o carbonato de cálcio menos abundante na água, o que tem levado diversos dos organismos a experimentar uma redução na calcificação ou um aumento na dissolução de suas estruturas calcificadas.
Os corais, que já estão ameaçados pelo branqueamento de corais, constroem seus esqueletos a partir dos íons carbonato presentes na água do mar e, por isso, estão entre os organismos mais afetados pela acidificação dos oceanos. Foto: Pixabay.
A acidificação dos oceanos pode também afetar a fisiologia e o desenvolvimento de diversos organismos, seja pela redução do pH interno (acidose) ou pelo aumento da pressão de CO2(hipercapnia). Até mesmo organismos que nem conseguimos ver a olho nu podem ser afetados pela acidificação dos oceanos. Em um estudo feito com diversos organismos que compõem a meiofauna – nome dado à minúscula fauna que vive enterrada no solo ou no sedimento de ecossistemas aquáticos –, pesquisadores que estudam a biologia marinha observaram que muitas espécies são sensíveis à redução do pH. E isso pode gerar efeitos em cascata sobre outros organismos, já que a meiofauna desempenha um importante papel na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia nos ecossistemas aquáticos.
Segundo estimativas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), em um cenário otimista, até o final do século a queda do pH nos oceanos deverá ser entre 0,06 e 0,07 e, em um cenário pessimista, entre 0,30 e 0,32. Não é possível prever, no entanto, todos os impactos negativos que estes níveis de acidificação dos oceanos poderão causar. Mas de uma coisa podemos ter certeza: a redução da emissão de CO2 é a única solução que temos para aliviar as consequências da acidificação dos oceanos.
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